Desde que o Jô voltou de férias (eu juro que um dia ainda vou ter essa vida de só começar o ano de trabalho em abril!), só consegui assistir ao seu programa na íntegra ontem.
Com um verdadeiro elenco de entrevistados (a humorista Maria Clara Gueiros, a jornalista/atriz/atleta Fernanda Honorato e o músico/jornalista/ex-criança prodígio Gustavo Martins), o programa prometia. Então, resolvi que meu sono não seria mais forte do que eu dessa vez e iria até o fim do programa, mesmo que isso me impedisse de acordar cedo no dia seguinte pra ir pra academia (o que de fato acabou acontecendo :P).
Gustavo, o primeiro a enfrentar o tão temido sofá, já começou a entrevista arrancando risos da plateia ao revelar seu objeto de pesquisa pra conclusão do curso de jornalismo na faculdade (usando um universo de 500 músicas, o cara resolveu pesquisar sobre as rimas mais usadas da MPB). Graças a ele, ficamos sabendo que ASSIM/MIM são as palavras mais rimadas da música brasileira, seguidas de perto por CORAÇÃO/PAIXÃO, que ocuparam o surpreendente segundo lugar do ranking (não sei como pude viver até hoje sem saber disso, Gustavo, obrigado! Quer ser o orientador da minha monografia da pós? :P).
(Ir)relevâncias acadêmicas à parte, a singularidade da pesquisa do Gustavo acabou se revelando apenas a ponta do iceberg que o levou ao Programa do Jô de ontem. Apaixonado por música desde a infância, o rapaz já esteve na mídia no início dos anos 90 ao entrar para o Guinness Book aos 9 anos de idade como o autor de livro publicado mais jovem do mundo (na época ele tinha escrito um livro infantil todo rimado!). Pelo que entendi, esse seu ressurgimento na televisão teria o objetivo de divulgar o seu trabalho como músico de uma banda chamada... hum... não lembro mesmo. Ao ver a apresentação e ouvir a música que eles cantaram, só posso chegar a uma conclusão: hum... tá bom! Vai por mim, Gustavo, melhor continuar SÓ PESQUISANDO sobre rimas, ok? Conselho de amigo...
Fernanda Honorato, a segunda entrevistada, surpreendeu não só a plateia como também este que vos escreve ao mostrar uma desenvoltura multitalentosa (que até então eu acreditava ser improvável para alguém com Síndrome de Down). Fernanda é repórter televisiva, nadadora, passista de escola de samba e atriz, e quase deixou o Jô numa saia justa ao perguntar a ele o que estava achando de ter uma entrevistada portadora da síndrome bem ali no seu programa. O apresentador respondeu a pergunta da forma mais simpática possível e talvez tenha acertado em cheio ao mencionar a importância daquele momento para a quebra de preconceitos que envolvem o tema.
Como um profundo ignorante do assunto, eu não fazia a menor ideia que alguém com Síndrome de Down pudesse ser tão independente e articulado como a Fernanda, o que me fez perceber, mais uma vez, que não existe sucesso sem esforço e que o ambiente que nos cerca é fundamental na hora de definir quem vamos nos tornar. Pena que o Jô não procurou saber mais sobre a família da Fernanda, sobre as oportunidades de acompanhamento profissional que ela teve etc. Talk shows têm dessas coisas... O cara às vezes é obrigado a ser uma mistura bizarra de Ary Toledo com Marília Gabriela e acaba não podendo/querendo perguntar mais. De qualquer forma, a suposta entrevista serviu pra mostrar pra todo mundo o quanto a gente ainda precisa rever os próprios conceitos com relação à Síndrome de Down, disso não há dúvida.
Não sei se meu sono ajudou ou não, mas acho que a terceira entrevistada, Maria Clara Gueiros, ficou meio apagadinha (quem diria!) por causa da irreverência dos outros dois. Um caso raro em que entrevistados desconhecidos roubam a cena de famosos no Programa do Jô.